Introdução
Em agosto de 1969, o relato de um menino pobre, analfabeto e tímido provocou celeuma na cidade de Diamantina, repercutindo em todo o estado de Minas Gerais e além de seus limites.
Raimundo Aleluia Mafra, de 12 anos, órfão de mãe, auxiliava seu pai Rivalino Mafra da Silva nas suas atividades de caçada e garimpagem, responsabilizando-se também pela assistência a dois de seus quatro irmãos menores.
Situada em Duas Pontes, distrito de Diamantina, estado de minas gerais, a residência da família Mafra era um casebre completamente isolado. Por dezenas de vezes o menino repetiu seu relato ao tenente Wilson Lisboa, delegado de polícia do município, ao juiz de direito, aos médicos, sacerdotes, jornalistas e a um sem número de pessoas que, apesar de refugarem a versão de Raimundo, ficaram impressionados com sua coerência e tranqüila convicção.
Alegava que seu pai Rivalino tinha desaparecido ante seus olhos, cercado por um redemoinho de poeira amarela levantada por dois pequenos objetos, postados à porta do casebre. E chorava mansamente, convencido de que seu pai jamais voltaria.
Logo após a desaparição de seu pai, Raimundo procurou vestígios seus na vizinhança e foi chamar o Sr. João Madalena de Miranda, funcionário de uma fábrica distante. Chegando este amigo ao local da desaparição, uma clareira de terra batida, notou que ele parecia ter sido cuidadosamente varrido, numa área cujo o raio media 5 metros.
As buscas, já sob a direção da polícia de Diamantina, começaram no mesmo dia e continuaram por muito tempo. Cães amestrados da polícia militar chegaram a belo horizonte, mas não encontraram rastros do garimpeiro. Os vôos de aves de rapina eram acompanhados atentamente como possível indício para localização do corpo de Rivalino.
O cônego José Ávila Garcia, vigário de Diamantina, apesar de não acreditar na versão do menino, revelou que na semana antecedente ao desaparecimento de Rivalino um funcionário do departamento dos correios e telégrafos, Sr. Antonio rocha, avistou duas bolas de fogo voando em círculos, a grande velocidade e baixa altitude, exatamente sobre Duas Pontes, onde residia o garimpeiro. O Sr. Antonio rocha confirmou, ao repórter do diário de minas, esta comunicação.
Após exame clínico efetuado em Raimundo, o médico Dr. João Antunes de Oliveira revelou nada ter descoberto de anormal, além do estado de desnutrição. O menino pareceu-lhe em boas condições mentais.
Por iniciativa do juizado de menores, Raimundo foi conduzido a belo horizonte, pelo comissário Antônio da Cruz. Nesta capital ele repetiu a estória com os mesmo detalhes, inclusive para o CICOANI. Antes de interná-lo no João Pinheiro, instituto para proteção e instrução de menores desvalidos, o juizado providenciou exame psiquiátrico e testes psicológicos, cujos resultados em nada contribuíram para solucionar a questão.
Depoimento do menor Raimundo Aleluia Mafra ao CICOANI em 30/08/1962
Diz Raimundo que, cerca das 20 horas de 19 de agosto deste ano, encontrava-se com seu pai Rivalino Mafra da Silva num cômodo de sua residência, onde dormiam dois de seus quatro irmãos menores. Ele e o pai achavam-se agachados em torno de um pequeno fogo que fizeram no cão de terra batida do quarto, próximos a uma porta que liga o mesmo à cozinha. Em certo momento seu pai chamou-se a atenção para uma sombra escura e indefinível, que deslizava silenciosamente pela cozinha, na direção de um outro cômodo. Essa silhueta foi descrita como tendo quatro pernas; mas delas o menino nada pôde precisar, afirmando apenas que tinha alguma semelhança com homem a engatinhar.
À guisa de cabeça o menino descreveu na sombra um topete, querendo dizer alguma saliência, que teria se virado na direção do quarto, ao passar pela porta, dando a Raimundo e seu pai a impressão de terem sido observados.
Em seguida o Sr. Rivalino levantou-se, indo até a porta por onde a sombra se mostrara, ou um pouco além, nada conseguindo divisar. O menino admite que o medo poderia ter impedido ao seu pai uma revista do resto do casebre escuro, mas garante que as trancas internas das duas únicas portas – uma da cozinha, outra da sala, estavam fechadas.
Voltando para o quarto, o Sr. Rivalino viu-se na impossibilidade de dormir, assim como a seu filho. Em certa altura ouviram ambos vozes humanas, “grossas e enroladas”, citando o nome do Sr. Rivalino e dizendo que tão logo iam matá-lo tão logo saísse de casa. Ouviram também um ruído semelhante ao de um despertador, proveniente de fora da casa. O garimpeiro e seu filho atravessaram a noite sem dormir.
Às 6 horas da manhã do dia seguinte, 20 de agosto, segunda-feira, Raimundo preparou-se para sair da casa e buscar a montaria de seu pai, no terreiro anexo. Ao abrir a porta da cozinha, que dava para o terreiro, deparou com dois pequenos e estranhos objetos pousados no solo, a poucos metros da porta de distância. Diferindo na cor, eram idênticos quanto à forma e tamanho. Ambos tinham forma ovalada e mediam entre 40 e 50 centímetros no diâmetro maior. A existência de um pequeno apêndice numa das extremidades de cada objeto, conjugada à forma dos mesmos, fez lembrar a Raimundo as figuras de tatus. Estes apêndices, do tamanho de um dedo, tinham forma tubular, segundo a descrição do menino. E, tal qual “rabicho”, projetavam-se das partes traseiras dos objetos, as quais estavam um pouco suspensas do solo. No momento em que Raimundo as percebeu, esses apêndices apontavam para a porta, ou seja, para a sua pessoa. Em seguida, quando o Sr. Rivalino chegou à porta, atendendo ao chamado de seu filho, os tubos apontavam para a direção oposta, indicando que os objetos teriam virado. Um dos objetos era inteiramente negro, fosco. O outro era rajado de branco e preto, com listas iguais em largura e traçadas transversalmente ao diâmetro maior do objeto. Esta descrição foi feita pacientemente, com o auxílio de um retrato falado.
O Sr. Rivalino, logo ao perceber os dois objetos, colocados lado a lado, um metro do outro, admirou-se soltando a frase: “que será isto?”. Recomendou ao filho que não saísse ela porta e, tendo ainda na mão a faquinha e o fumo com que preparava seu cigarro de palha, o Sr. Rivalino aproximou-se lentamente dos objetos, afirmando seu filho que ele não parecia demonstrar medo. À aproximação de Rivalino, os dois objetos se uniram lateralmente, com um som surdo e começaram a girar em conjunto, velozmente e levantando logo um redemoinho de poeira amarela, a qual envolveu Raimundo, sem atingir seu filho. Este declarou que, além do surdo ruído durante o choque dos objetos, o único ruído que ouviu foi o zumbido do vento que levantava a espiral de poeira, tendo esta impedido que Raimundo enxergasse tanto os objetos, quanto seu pai, que não reapareceu quando cessou o redemoinho.
Comentários do CICOANI
Após meses de investigação infrutífera, surgiu a notícia de que o esqueleto de Rivalino fora encontrado. O jornal “A Estrela Polar” (Diamantina, 10/03/1963) afirma que, “no dia 3º de carnaval (1963), cinco caçadores encontraram, bem perto do casebre de Rivalino, em lugar de difícil acesso, a sua ossada. Caiu por terra o conto da carochinha. Falta agora esclarecer o resto” – diz o jornal (os grifos são nossos).
Em verdade, diríamos nós, que o “resto” que falta a esclarecer é praticamente tudo. Se não vejamos:
As explicações convencionais se reduziram a duas: o Rivalino teria fugido ou teria sido vítima de seqüestro e/ou assassinato.
Primeiro caso, a estória apresentada pelo filho seria um álibi inspirado pelo próprio Rivalino, para cobrir a sua fuga. Segundo: seria um álibi engendrado pro criminosos. Nos dois casos, portanto, haveria participação do filho, para cobertura de um episódio que, estranhamente, contrariava o interesse a segurança do mesmo. Ele demonstrou gostar do pai e acabou ficando sozinho com dois irmãos menores.
De qualquer forma, estranha-se que sua notória timidez e inexperiência não o levassem a vacilar em qualquer ponto dos repetidos depoimentos que teve que prestar à polícia, juízes, sacerdotes, médicos, jornalistas e finalmente ufologistas do CICOANI e da SBEDV (Dr. Walter Buller). Mais estranho ainda é que, para encobrir um crime se apresentasse um álibi de tal forma sofisticado e discrepante do contexto sócio cultural, a ponto de chamar a atenção não só da polícia de Diamantina, como do estado inteiro. O efeito da estória seria, então, o oposto de um álibi.
Se a estória do menino é inteiramente fruto de delírio e alucinação, como explicar que o exame psiquiátrico não tenha revelado os sintomas correspondentes? Como explicar que o menino tenha projetado no ambiente conteúdos intra-psíquicos de implicações tecnológicas tão avançadas e relativas à um tipo de fenômeno do qual jamais ouvira falar?
Na literatura específica dos discos voadores há referências a diminutos objetos telecomandos semelhantes ao descrito pelo menino. Pela raridade de suas fontes tais referências mantiveram-se praticamente restritas aos especialistas, sendo, obviamente, inacessíveis a crianças analfabetas do meio rural.
Outro ponto a explicar é a presença de objetos aéreos não identificados nas proximidades do casebre de Rivalino, uma semana antes do seu desaparecimento, assim como a extraordinária “varredura” do terreiro onde ele ocorreu.
Quanto ao esqueleto encontrado (se encontrado), que tipo de exame possibilitou relacioná-lo à Rivalino. Se a ossada foi descoberta perto de sua moradia seis meses depois, como se explica que seu cadáver não fosse encontrado, após dias de buscas minuciosas, enquanto era devorado por urubus e outros animais necrófagos? O cadáver não seria consumido por animais se estivesse enterrado mas, então o prazo de seis meses seria insuficiente para que se resgatasse apenas o esqueleto limpo. Caso este seja realmente de Rivalino, resta a hipótese de que sua carne tenha sido consumida de forma total e quase instantânea por meios não convencionais.
Parece, portanto, que do caso “Duas Pontes” tudo resta a explicar.
10/09/1968
Hulvio Brant Aleixo
COMENTÁRIOS EQUIPE FENOMENUM
Segundo o Blog Arraial do Tijuco, da cidade de Diamantina, o esqueleto teria sido encontrado por Paulo Duarte e Chico Prata em uma fenda de pedra e teria sido identificado graças à um cinto. O Blog não explica o grau de proximidade entre aqueles que descobriram a ossada e Rivalino Mafra. Também devemos levar em conta que numa época conturbada, em que vigorava um regime militar, notícias que poderiam gerar preocupação ou agitação eram rapidamente combatidas pelas autoridades. Sendo assim, um cenário armado com uma ossada, identificada como do desaparecido e posicionada em um local propício seria bastante útil numa manobra de silenciamento, se divulgada de forma apropriada. Seja como for, o caso chamou a atenção da Força Aérea Brasileira que registrou o episódio através de um relatório emitido pelo ufologista Hulvio Brand Aleixo que ilustra este artigo. O documento da Força Aérea Brasileira referente ao caso pode ser acessado aqui (arquivo de 6 páginas em formato PDF - 3,19 MB).
Pesquisador da SBEDV, em visita ao local do fato. Duas abóboras ao chão indicam a posição dos objetos no momento em que foram observados inicialmente
Desenho confeccionado pelos pesquisadores da SBEDV a partir do depoimento de Raimundo Mafra
De pé, da esquerda para a direita: Paulo Ávila, José Domingos, Paulo Duarte, Fabiano Pimenta e Dona Antonieta Motta. Agachados, na mesma ordem, Francisco Machado, Erimar Couto (Bocage), meio escondido, Rômulo Rocha e Waltinho Silva [Fonte: Blog Arraial do Tijuco]
Conheça este caso mais detalhadamente acessando nosso menu abaixo:
Resumo do Caso Relatório de Pesquisa do CICOANI, elaborado pelo veterano ufólogo Hulvio Aleixo que investigou o caso | |
A Pesquisa da SBEDV Relatório de Pesquisa da SBEDV, elaborado por Walter Buller |